ler Aquilino Ribeiro

"Mas, em qualquer altura, alguém que tenha a inclinação solitária, ou atenta, ou simplesmente erudita, abrirá um livro de Aquilino (…) e amará o seu verbo.» A.Bessa-Luís

Um domingo, meia manhã…

umdomingopelamanhã

«Um domingo, meia manhã, que o feitor
me quis mostrar uma cepa com pintor,
vi um passarinho, cor da estamenha,
extático num ramo, ao pé da azenha,
diante dum pantafaçudo caracol

─Olhe, menino, a ave é o rouxinol,
e lá estão ambos em charla discreta.
Ouviu-lha um tipo, que era poeta:

─Então de passeata ao sol,
Maria do Caracol?.!

─Qual o quê, senhor rouxinol,
mourejando para criar a prole.
E Vossa Mercê, cantando à noite e no arrebol … ?
Ouvi-lhe ontem a canção em bemol,
para o ouvir pôs-se mais tarde o Sol …

─Foi o meu noivado, tiazinha.
Trinei a melhor modinha
que tinha no repertório …

─Não ouvi foguetório …

─Com a casa às costas podia ouvir … ?

─Mal, muito mal. À sina não há que fugir.
Mas não se vá sem resposta:
quis empregar-me na mala-posta,
levar recados, trazer cartas e jornais
tenho medo de petos e verdiais.
E para aqui ando, gozando o meu serpol,
de corninhos ao sol,
ouvindo-o, senhor rouxinol,
cantar e recantar nos castelos de Almourol.
Passe muito bem, cá vou, de meu mole,
Para o Ferrol.»

(in O Livro de Marianinha, 3ª ed. (2010), p.25 e 26.
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